PEC da Blindagem e o “cheque em branco” do eleitor. O que isso tem a ver com as emendas PIX?

Você já se deu ao trabalho de conhecer o teor da PEC da Blindagem? Provavelmente não! Então este texto é para você. Vamos lá.

O que a PEC da Blindagem tem a ver com as emendas PIX? A mudança na constituição cria um “escudo” para que deputados e senadores fiquem mais protegidos de responsabilização. 


PEC 3 de 2021, também chamada de PEC da Blindagem, propõe alterações nos artigos 14, 27, 53, 102 e 105 da Constituição Federal, tratando das prerrogativas parlamentares.


Após a aprovação na Câmara dos Deputados, em 17/09/2025, a Mesa Diretora encaminhou o texto ao Senado Federal por meio do Ofício nº 209/2025/SGM-P.


A Proposta justifica a alteração da Constituição com esse argumento: 

“A sociedade brasileira acompanhou com “grave preocupação” os recentes acontecimentos… da prisão em flagrante do policial militar (agora um ex-deputado) Daniel Silveira, ocorrida em 16 de fevereiro de 2021, chamando a prisão de “restrição da liberdade de um membro da Casa”. 


Para aqueles que não recordam os fatos que levaram a prisão em flagrante do ex-deputado vou fazer - em ordem cronológica - uma visão sintetizada dos motivos que culminaram nela. Confira: 

Linha do tempo – Daniel Silveira (2018–2022)


Data

Evento

Detalhes / Consequências

3/10/2018

Rasgar placa de Marielle Franco

Junto com Rodrigo Amorim, rasgaram uma placa não-oficial com o nome da ex-vereadora, às vésperas do 1º turno das eleições.

Nov/2018

Inspeção no Colégio Pedro II

Ameaçou acabar com qualquer “marxismo cultural” nas escolas, com tom intimidativo e prometendo auditorias.

11/10/2019

Nova inspeção no Colégio Pedro II

Voltou com Rodrigo Amorim para a “Cruzada pela Educação”.

1/2/2022

Condenação

Indenizou a diretora do Colégio Pedro II em R$ 20 mil mais custos processuais.

Out/2019

Discussão com jornalista

Debate com Guga Noblat, jogou o celular dele no chão e proferiu ameaças verbais.

Set/2019

Projeto de Lei

PL para instituir o Dia Nacional em Memória das Vítimas do Comunismo no Brasil.

Nov/2019

Declaração sobre prisão em segunda instância

Publicou no Twitter que estava “à disposição” caso fosse necessário intervir.

Dez/2020

Ameaças ao STF e TSE

Defendeu voto impresso e afirmou que STF e Justiça Eleitoral “não mais existiriam” se isso não acontecesse; chamou ministros de “marginais”.

16/2/2021

Prisão

Detido pela Polícia Federal após divulgar vídeo com apologia ao AI-5 e ofensas/ameaças a ministros do STF.


Confirmou os motivos que culminaram na suposta “restrição da liberdade” de um membro do Parlamento? Ufa!

Avalie se não fosse “restrita” esse portento de liberdade. 


Foi exatamente esse fato que o Autor da PEC utilizou como justificativa para propor a alteração nos artigos da Constituição. 


Quatro anos depois, a Câmara dos Deputados ignorando completamente a “voz do povo”, aprovou essa alteração com 344 votos favoráveis e 133 contráriosCom isso a proposta segue para o Senado. 

Enquanto isso acontece veja que 72% dos deputados disseram sim a essa alteração. 

Agora avalie: por que falei que a aprovação da PEC na Câmara dos Deputados está “ignorando a voz do povo”? A resposta é simples, veja esse gráfico coletado via IA:


Repercussão da PEC da Blindagem nas redes sociais

Tipo de menção

Quantidade

Porcentagem

Favoráveis

391.000

17%

Críticas

1.909.000

83%

Viu aí? 83% dos brasileiros se manifestam em redes sociais CONTRA essa alteração! 73% dos deputados aprovaram!


Mas afinal, qual foi o motivo que reacendeu toda essa polêmica sobre prerrogativas parlamentares, quatro anos após a prisão do ex-deputado?


Vale questionar: será este realmente o momento adequado para falar em “restrição da liberdade”?


Observe que essa alteração se sobrepôs até mesmo ao complexo debate sobre a Anistia. O que explica tanta rapidez de aprovação?


Para compreender, é fundamental analisar primeiro quais prioridades os deputados apontaram para votações em 2025. Confira,

Na sessão preparatória para eleger a nova Mesa Diretora da Câmara, os deputados apontaram como prioridades de votações: 

    1. a conclusão da votação da reforma tributária
    2. a regulação das redes sociais
    3. o Plano Nacional da Educação,
    4. combate à violência e à inflação
    5. e incentivo ao crescimento econômico.

(Fonte: Agência Câmara de Notícias)


O que poderia ter motivado a celeridade para atropelar outras votações mais importantes e tratar de votar e aprovar o tema das prerrogativas parlamentares?


Vamos lá: vou tentar montar um cenário paralelo para o leitor compreender melhor o contexto. Veja:


Vamos começar pela nota recente da Transparência Internacional, organização que trabalha com o tema da corrupção. A nota lembrou que, entre 1998 e 2001, o Congresso barrou 253 investigações, autorizando apenas uma. 


Nessa época, vigorou a regra da autorização do Parlamento para abertura de ações penais contra parlamentares.


Para “piorar o cenário para os Congressistas” no final de agosto de 2025, o ministro do STF Flávio Dino mandou a PF investigar 964 emendas individuais de parlamentares de transferência especial, chamadas “emenda Pix”, que somam R$ 694 milhões. Uau!


A partir daí as emendas parlamentares vêm sendo alvo de bloqueios bilionários. 


Em dezembro de 2024, Dino suspendeu o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas por suspeitas de irregularidades. O esquema continuou e já em 2025 somam 694 milhões. 


Nesta semana de setembro de 2025, Dino suspendeu o repasse de “emendas Pix” para nove municípios, fundamentado em uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) em dez cidades. A auditoria concluiu que só em 1 município não encontrou irregularidade. 


A execução das emendas parlamentares é um dos principais motivos de disputa entre o Supremo e o Congresso. Tenha em mente que o que está em jogo são recursos públicos. Devemos exigir transparência. 


Vivemos em uma democracia representativa: escolhemos nossos representantes e damos a eles o direito de nos representar.


Mas cerca de 73% dos parlamentares parecem entender a representação como um cheque em brancoNão é!


Os deputados parecem menosprezar o fato de que temos três poderes harmônicos e independentes entre si.


Quando um poder busca acumular vantagens excessivas, é natural que tente influenciar ou controlar os demais.


Se o STF julgar essa alteração da Constituição como inconstitucional, é provável que aqueles que defendem a mudança apresentem outra narrativa aos cidadãos: podem acusar o STF de “legislar” ou tentar deslegitimar sua decisão.


O voto no Brasil é obrigatório e tem valor. Lembre-se do movimento Diretas Já, que lutou pelas eleições diretas após a Ditadura Militar.


voto é nominal, representa você. Não é em branco. Não é sem valor. 


Por isso, nas Eleições de 2026 é essencial conhecer os posicionamentos dos candidatos e verificar se eles estão alinhados com o que você acredita. Seu “cheque” custa o valor inestimável da sua vida!











Imagens disponíveis e retiradas do Google 

Sites e links de pesquisas e compilações parciais dos textos:


Portal da Câmara dos Deputados


PEC da Blindagem pode barrar ações contra corrupção no uso de emendas | Agência Brasil

Comentários

  1. Como bem levantas, Vera Lúcia, o problema todo é que a maioria dos brasileiros vota por pequenas vantagens. Enquanto isto perdurar teremos sempre um legislativo desqualificado para a sua função específica: legislar. E como se comenta em alto e bom som: este é o pior congresso que o país já teve!

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