A política externa de Trump é uma ameaça ao segundo mandato de Lula? O retorno da “arma de energia”.
À medida que as mudanças climáticas intensificam disputas por recursos naturais e pelo controle das cadeias de suprimentos, as nações que dominarem as fontes limpas, baratas e seguras de energia sairão vitoriosas.
Para compreender esse cenário de tensão e oportunidade, é indispensável revisitar a história do mercado energético global — suas origens, crises e transformações — pois somente conhecendo o passado é que se pode traçar um caminho sólido para o futuro.
Vamos ver como isso funciona?
Após sofrerem os efeitos desastrosos do embargo de petróleo de 1973, países ao redor do mundo integraram seus mercados de energia e, em grande parte, deixaram de usar a energia como instrumento de coerção.
Mas agora, governos estão novamente utilizando petróleo, gás, eletricidade e terras raras como alavancas de política externa: a Rússia reduziu drasticamente o fornecimento de gás natural para a Europa, a China restringiu a exportação de minerais críticos e os Estados Unidos exigiram que diversos países comprem mais energia americana em troca de redução de tarifas.
A instrumentalização da energia está de volta, escrevem Jason Bordoff e Meghan O'Sullivan na última edição da revista Foreign Affairs , e “essa tendência dificilmente terminará em breve.
Para se protegerem, os países precisarão não apenas produzir mais energia, mas também consumir menos, argumentam Bordoff e O'Sullivan.
E pode haver até um lado positivo na volatilidade que se avizinha. "Em última análise, o imperativo de reforçar a segurança energética pode ser um motivador ainda mais forte para a implantação de energia limpa e a redução do uso de combustíveis fósseis do que a própria ameaça das mudanças climáticas."
Já o Brasil como se protege dessa “arma de energia”?
A dependência do Brasil no setor energético é uma questão complexa e, ao mesmo tempo, interessante, porque o país possui uma matriz energética relativamente diversificada, mas ainda enfrenta vulnerabilidades estruturais — especialmente quando se observa o peso da geração hidrelétrica e a dependência de insumos externos para parte dos combustíveis fósseis.
Vamos por partes:
🇧🇷 1. Predominância da energia hidrelétrica
Desde meados do século XX, o Brasil construiu sua base energética sobre o potencial hidráulico — algo natural, dado o território extenso e os rios abundantes.
Cerca de 55% a 60% da eletricidade brasileira ainda vem das hidrelétricas, segundo dados recentes da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Embora isso pareça positivo — energia limpa e renovável —, cria uma dependência climática.
Em períodos de estiagem, os reservatórios baixam e o país é forçado a acionar termelétricas (a gás natural, carvão ou óleo combustível), o que encarece e polui mais.
Essa fragilidade ficou evidente em crises como:
• 2001, com o famoso “apagão” durante o governo FHC;
• 2014-2015, com reservatórios críticos e aumento na conta de luz.
🛢 2. Dependência parcial de combustíveis fósseis
Apesar do pré-sal ter transformado o Brasil em exportador de petróleo bruto, o país ainda importa derivados, como gasolina e diesel, porque o parque de refino nacional é insuficiente.
Ou seja, o Brasil exporta petróleo cru e importa combustível refinado, o que o torna dependente de preços internacionais e decisões de política da Petrobras.
Além disso, o gás natural — usado nas termelétricas e na indústria — ainda é parcialmente importado, sobretudo da Bolívia e, em momentos críticos, via GNL (gás natural liquefeito).
🌾 3. Bioenergia e etanol: um ponto de autonomia
Aqui, o Brasil é exemplo mundial.
Desde o Programa do Álcool (Pró-Álcool), lançado em 1975, o país desenvolveu uma forte indústria sucroenergética, com produção de etanol e energia a partir da biomassa (bagaço da cana).
Hoje, o etanol é o principal combustível renovável do mundo em volume, e a frota flex é uma vantagem estratégica.
Contudo, essa fonte ainda depende de boas safras agrícolas e da política de preços dos combustíveis fósseis — o que, de certo modo, mantém a vulnerabilidade.
☀️ 4. Energias renováveis emergentes
Nos últimos anos, houve expansão vigorosa das fontes eólica e solar, especialmente no Nordeste.
• A energia eólica já representa mais de 13% da geração elétrica.
• A solar, somando grandes usinas e sistemas distribuídos (telhados solares), passa de 10%.
Essa diversificação ajuda a reduzir a dependência das chuvas, mas ainda há desafios de armazenamento e de integração ao sistema nacional.
⚖️ 5. Desafio estrutural e político
Apesar da matriz ser uma das mais limpas do mundo (com mais de 80% da eletricidade vindo de fontes renováveis), o país:
• continua vulnerável a crises hídricas;
• depende de decisões políticas sobre preços e subsídios;
• e carece de investimentos em transmissão, refino e inovação tecnológica.
O Brasil tem autonomia relativa, mas não independência plena no setor energético.
É forte em recursos naturais e renováveis, mas ainda refém da água e do petróleo, e de políticas públicas que nem sempre priorizam estabilidade a longo prazo.
Se o país equilibrasse o tripé hidro + renováveis emergentes + eficiência energética, poderia, de fato, conquistar uma soberania energética sólida e duradoura — algo que o passado já mostrou ser possível quando há planejamento e continuidade.
Parte inicial do texto foi adaptado do original publicado na Foreign Affairs
Uma Ferramenta Antiga Criando Novos Perigos
Jason Bordoff e Meghan L. O'Sullivan
Publicado em 21 de outubro de 2025)
Imagens disponíveis e retiradas do Google





Triste, Vera Lúcia, é quando Governos sérios investem em patrimônio que gera atendimento e bem estar à população e, aí, aparecem os néo-liberais que passam a se desfazer de tudo em favor de empresários da patota a preços de compadres´, tal como vimos recentemente.
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