A política e os cristãos devem se misturar? O que podemos esperar dessa seara?


Para entender o atual cenário da politização cristã, primeiro vou lembrar um antigo hábito na idade média. Esse costume, ressignificado muitas vezes com o desprezo de Lutero era o de escrever em uma folha de papel as palavras “No início era o verbo”, daí colocava-se em uma casca ou um recipiente para pendurá-lo no pescoço ou em qualquer outro lugar. Tais palavras eram as primeiras escritas na epístola de São João 

A crença nessas palavras funcionava como um talismã protetor contra tempestades, trovões e relâmpagos que já nessa época, assim como hoje, também causavam muitas mortes

Lutero desprezava isso. Ele entendia se buscamos a fé, não há poder nas palavras.
Palavras não foram preparadas para objetivos mágicos - isso é o domínio do mal - nosso interesse pessoal é meramente acreditarmos nelas para alcançarmos nossos objetivos, não mágicos, não por meio de feitiços ou encantos, mas sim “na e por meio da fé”

Lutero arremata que palavras misteriosas estão além do entendimento humano sem a ajuda da fé 

Assim imergirmos na palavra escrita, os textos bíblicos, uma maneira de transmitir posições doutrinárias que regem os cristãos até hoje

Tendo isso em mente voltemos às origens do cristianismo, uma doutrina que para sobreviver precisou vencer duas políticas dominantes da época: 

👉🏻 o paganismo dos romanos que acreditavam em muitos deuses, além da 
👉🏻 predominância dos rígidos costumes judaicos das aldeias escravizadas pelo Império Romano 

No meio de tudo encontramos um grupo de pessoas - com ofícios, mas a maioria desempregados - circulando nas aldeias e povoados gregos-judaicos, curando e ajudando os mais pobres com um novo discurso político, muito diferente daquele que dominava à época, as doutrinas judaicas, gregas e romanas

Com o novo discurso influenciador veio o temor de ambos, os judeus tradicionais e os poderosos romanos de corrosão dos seus poderes

Sendo assim vale questionar: como um grupo tão reduzido de pessoas humildes, sem poder e sem recursos pode produzir um estardalhaço desses na sociedade da época? Difícil responder não é? Lutero respondeu: “havia um Deus um Discurso ou Verbo ocupando Deus inteiro”, a fé!

Mas esse não é o nosso foco, nossa meta é lembrar que no discurso político desse pequeno grupo havia coesão e força integral, qualidades suficientemente aptas a purgar o discurso rígido dos judeus. No fim das contas o impasse era: como convencer os próprios judeus dessa nova doutrina?

Nos rígidos e concentrados costumes judaicos não havia a ideia de estabilidade por comunhão, amor e serviços mútuos. Era só trabalho árduo, altos impostos e nenhuma vantagem social 

Tirando proveito da escravidão reinante vamos encontrar ricos e abastados judeus. O discípulo João nasceu numa dessas famílias. Ele era filho de um rico judeu dono de muitos barcos de pescas, e com muitos empregados. João era um dos herdeiros do que hoje conhecemos como um rico empresário 

Diante disso como convencer esses judeus abraçarem a causa comprimida num único mandamento: o amor? É fácil quando se tem todas as vantagens da riqueza em uma comunidade predominante de pobres? Óbvio que não 

Entre os judeus além do preconceito existia muita incredulidade e discórdia. Exatamente para “limpar a barra” (como dizemos hoje em dia) João é o único a citar o encontro de Jesus com Natanael (Cap.1:43-51)

Como bom judeu que era, Natanael tinha acabado de destilar preconceito contra Jesus, ao saber que sua família era de Nazaré uma aldeia muito pobre, disparou: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” 

Impressionante ver como até hoje julgamos assim 

Só que o novo grupo ansiava pela credulidade e confiança entre os judeus. Por isso, Jesus desprezando o preconceito respondeu:-“Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!” Assustado com a acolhida Natanael rebateu:-“ Donde me conheces”? 

Porque isso? Qual o motivo desse diálogo? Ora o grupo para fortalecer o novo discurso precisava do apoio dos desconfiados e incrédulos judeus, João era de família rica (não contava) e de acordo com a tradição judaica foi Jacó que deu origem aos israelitas (12 tribos). 

Acontece que a fama de Jacó entre os judeus não era das melhores, já que era tido como um “grande trapaceiro”, capaz de enganar o pai cego no leito de morte se passando pelo irmão Esaú  - em troca da benção - e também de enganar o irmão, faminto, trocando um prato de comida pelo direito de governar. A primogenitura era algo especial para os judeus 

Levando em  conta esse vil passado de trapaças a referência aos israelitas não era de boa fama, por isso Jesus foi enfático com Natanael: aqui um israelita que não tem má-fé, que não é traiçoeiro

O grupo não perdeu a oportunidade de ganhar o respeito tão essencial dos judeus lembrando que existiam judeus de bom caráter entre eles 

Voltando aos dias atuais vemos que cada seguimento cristão paga o preço da sua realização. Alguns acham que merecem misturar o poder político com o religioso para defender valores cristãos. Ledo engano 



Afinal Jesus nunca pensou em poder - e foi crucificado exatamente por isso - muito pelo contrário Jesus com a ética, com o caráter, com a percepção das pessoas no Amor acreditava ser  isso capaz de fazer o mundo em que vivemos um lugar melhor, independente do discurso político 

Pois de outra forma como vamos entender o poder político? Como entender a “banalidade” de providências religiosas entre a ética e a moral com um poder legislador? Ou ainda entender a defesa de princípios como a caridade quando a questão fundamental do “bem e do mal” está em jogo? Religião e poder político são óleo e água, não se misturam 

O poder político é intrusivo, já o poder do amor não resulta de realizações morais ou éticas alegremente mundanas entre pessoas boas e más. O amor cristão transcende a isso 

O poder do amor apregoado pelos discurso de origem dos cristãos não é de que as más se disfarçam de “lobos em pele de cordeiro” para justificar a intrusão da religião no poder político

Essa nunca foi a ideia do Cristianismo. O determinismo cristão contrasta com a importância das escolhas humanas individuais, não é com o poder coletivo 

Escolhas essas que provam: Deus esta súbita e decisivamente no FIM de forma que nenhuma ação humana seja possível. Jesus Cristo provou isso

A fé transcende ao poder político sendo este nada mais do que mera ação humana 

Os judeus até hoje não acreditam
em Jesus Cristo
 








Imagens disponíveis no Google 

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