A ameaça da especulação financeira (commodities) sobre a água potável. Por que um preço global (GlobalPriceonWater) é necessário na era das mudanças climáticas

Um leito de lago ressecado no reservatório de paliçadas quase vazio em 23 de setembro de 2021 perto de Irwin, Idaho, após a longa seca de uma temporada. Natalie Behring — Getty Images


Quem se encantou com as espetaculares cenas de ação do filme
Quantum of Solace de 2008 o 22º. filme da Série 007 JamesBond lembra bem do personagem Dominic Greene


Greene, junto com Mr. White e Le Chiffre, comandam a Quantum, uma empresa de fachada chamada Greene Planet, com objetivos supostamente ecológicos. Ele é incumbido pela organização de conseguir um grande pedaço de terra na América do Sul, rica em recursos naturais 

Olga Kurylenko e Daniel Craig, destaques no cartaz do filme


Para este fim, ele se associa a um General, corrupto exilado, que voltando ao país para tomar o poder, e com isso garantir o contrato das terras para a organização que pretende monopolizar as reservas de água da região. James Bond frusta, com sucesso, esse plano 

Pois é, aqui a fantasia se mistura com a realidade porque temos quase 1 bilhão de pessoas no Planeta que não tem acesso suficiente a água potável 

Mas em dezembro de 2019 a água foi listada como commodities na bolsa de futuros de Wall Street. 


O Índice de Água da Califórnia Nasdaq Veles (NQH20), o índice de preço da água foi o primeiro, realmente a ser negociado como commodities.


A notícia gerou debate internacional, especialmente em países industrializados que sofrem estresse hídrico sem falar no embate das flutuações políticas entre a gestão pública e privada da água, que são comuns como é o caso do Brasil. O assunto é um tema ainda muito complexo para nós. 


Existe ainda a preocupação entre aqueles que trabalham para a realização universal do ODS 6 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) que deve garantir o acesso universal à água, como um direito humano internacionalmente reconhecido e vital para o planeta.



O valor da água é sinônimo de saúde, educação, igualdade de gênero e possibilidades de desenvolvimento


Na Austrália, Chile, Espanha, África do Sul, Irã, Índia e vastas áreas dos EUA, assim como aqui no Brasil as administrações públicas concedem direitos de uso da água por meio de concessões

Você paga pela água que usa? A resposta é um óbvio “sim" - você provavelmente recebe uma conta de água todos os meses, cobrando um centavo ou dois por cada galão que sai das torneiras da sua casa

Assim todos nós assumimos que devemos pagar pela água. O preço da água está implícito no conceito de acesso à água que faz parte da declaração da ONU sobre o direito humano à água.


Determinar um preço justo para a água é um processo complexo, pois envolve vários fatores ligados ao custo de todo o processo do ciclo da água: é o preço de capturá-la, coletá-la, limpá-la, purificá-la, transportá-la, usá-la, tratá-la, reciclá-la novamente e devolvê-la ao meio ambiente.

Por um lado, os preços da água residencial são baseados nos custos de entrega, com as concessionárias cobrando pelo custo de levar água para você e não pelo recurso real. 

Mais importante ainda, o uso residencial da água representa apenas uma pequena fração da água que entra nos produtos e infraestrutura que tornam a nossa confortável vida possível. 


Dependendo de onde operam, as empresas que usam essa mesma água podem fazer com que seus produtos não paguem quase nada por ela, ou podem pagar apenas pelo direito de usar uma fonte de água, mas não pelo volume real de água que usam. Pense nisso, afinal as empresas usam a água e lucram com isso 


Quando esse uso indireto de água é levado em conta, um pessoa consome quase 2.000 galões de água todos os dias. Caramba é um bom volume de água, não é? 


É por isso que resolver essa diferença entre o valor e o preço da água é essencial para enfrentar um futuro de riscos significativos da água


Um canal de irrigação de água em Shafter, Condado de Kern, Califórnia


A água não vale o mesmo para um fazendeiro quanto para alguém que vive em uma cidade, nem vale o mesmo para alguém que vive na Escandinávia quanto para um nômade em um deserto

Mais de 70% da água do planeta é para a agricultura, um setor diretamente ligado à governança e às mudanças de gestão pública. No Brasil, o agronegócio é a base da nossa balança comercial com mais valor agregado do que a exportação do petróleo. 


E a cada novo governo tudo muda, muda ministro, mudam recursos, mudam políticas, só a garantia de uso e conservação  da água potável fica no mesmo patamar, sendo menosprezada 


No entanto listar o direito à água na bolsa de valores de Wall Street terá uma influência muito negativa no direito humano à água potável 

Transformar um bem antes abundante e essencial à vida em especulação financeira de novo, igualzinho fizemos com os recursos fósseis (petróleo) descambará na ganância. Permitindo isso deixaremos de novo, assim como o petróleo, a ganância do capitalismo derrotar a qualidade da vida humana 


No mercado financeiro, um bem escasso, como a água potável sujeito aos altos e baixos na disponibilidade de oferta, em especial às secas devido à crise climática e ao aumento do uso da água serve como alerta para a especulação financeira, já que isso fará com que o valor físico e financeiro da água, venha a disparar. 

Nós queremos lucros ou a vida? De que adianta a riqueza, caso não tenha vida e saúde para usufruí-la? 

Só lembrando: no caso da água, não se trata de comprar e vender água diretamente, como se fosse trigo, soja, petróleo ou ouro, mas sim dos direitos de ter acesso a ela, e isso implica uma diferença nos mercados futuros em que essas commodities seriam negociadas


A água é a última frente no confronto dos economistas com o fracasso do capitalismo de mercado quando levamos em conta o quanto ela afeta o meio ambiente 

Os hidrólogos estão cada vez mais convictos de que o principal impulsionador da chuva em muitas partes do mundo não é o oceano - como se pensava anteriormente -, mas ecossistemas terrestres que podem se estender por regiões. 

Os agricultores da Argentina dependem de "rios voadores" - grandes faixas de ar úmido - produzidos pela floresta amazônica no Brasil, e a Índia depende muito da estação de fusão estável nas terras altas tibetanas para sua chuva

Seria controverso colocar um preço nesses fluxos virtuais de água. 

Se as indústrias pagarem mais pela água, elas repassarão esse aumento de custos para os consumidores na forma de preços mais altos. 


Isso afetaria particularmente os alimentos, cuja produção é responsável por 70% do uso global de água doce. 

O Banco Mundial estima que um cenário de gestão da água chamada de "business as usual" desencadeará perdas de PIB de até 10% ao ano em algumas regiões até 2050. 

“Enquanto tivermos essas falhas de mercado, continuaremos a destruir o funcionamento do sistema da Terra. 


E, no final, teremos tanta escassez de água que teremos um aumento dos preços dos alimentos de qualquer maneira”, diz Johan Rockström, codiretor do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático da Alemanha e especialista em recursos hídricos.


E continua, “Temos que encontrar uma maneira inteligente de fazer isso.”


Por fim vamos torcer para que surjam muitos James Bond que consigam derrotar a ganância da especulação financeira pela garantia de se manter a vida humana 


Finalmente, 

Torcemos sim, por um Global Price on Water (preço global sobre a água), mas a favor da vida, não da especulação financeira 




Créditos das imagens Google 
Sites de pesquisas e textos compilados e adaptados: 


https://time.com/6182840/water-price-climate-change/


https://indexes.nasdaqomx.com/docs/methodology_NQH2O.pdf


https://universoestendido.com.br/listas/007-filmes/


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