A volta do Condor e o "milagre económico" de Paulo Guedes. Será?


Brasil volta a ocupar com destaque as manchetes econômicas do mundo todo, após o ministro da Economia Paulo Guedes afirmar que não vai obedecer o limite de gastos - a regra de ouro - do controle orçamentário do país. O intuito é garantir recursos - com potencial eleitoreiro - para pagar o novo Auxílio Brasil (programa social)

Entender essa decisão requer voltar ao passado, conhecer a bagagem de formação do economista/empresário titular do Ministério que tem em seu poder, atuar,  no mínimo, em 37 áreas de competências da gestão pública. É muito poder!

É isso mesmo que você leu: 37. É um MM, ou um Master Ministério. Quer saber mais? Basta acessar o link 

https://www.gov.br/economia/pt-br/acesso-a-informacao

Vamos lá:
Paulo Guedes estudou no Colégio Militar de Belo Horizonte e graduou-se em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, completando seu mestrado em Economia na Fundação Getulio Vargas (FGV)

Já em 1974, obteve bolsa do CNPq - o mesmo órgão que 47 anos depois, à frente do Ministério da Economia, Guedes corta 92% de recursos destinados à ciência 

Com a bolsa, Guedes ingressa na Universidade Chicago (EUA), concluindo seu doutorado em 1978

No retorno ao Brasil sentindo-se marginalizado e desmerecido foi recrutado por Jorge Selume, outro economista empresário, um dos sócios do grupo Las Diez Mezquitas, na época era o Diretor de Orçamento do regime Pinochet e dirigia a faculdade de Economia e Negócios da Universidade do Chile. Guedes aceitou uma cadeira de docência na Universidade chilena


Os dois integravam - sendo ex-alunos da Universidade de Chicago -  os famosos Chicago Boys, o grupo de estudantes de pós-graduação em Economia da Universidade americana 

Milton Friedman em foto recente

O grupo, durante o regime Pinochet, aproveitou o modelo de liberalismo das idéias de Milton Friedman, nascidas do documento conhecido como El Ladrillo (O Tijolo)

O Chile durante o regime Pinochet abriu a porta para o surgimento do neoliberalismo com os famosos Chicago Boys que começaram um tratamento de choque na economia chilena: o gasto público foi reduzido em 20%, foram demitidos 30% dos empregados públicos, e o Imposto de Valor Agregado (IVA) foi aumentado e os sistemas de empréstimos e moradias foram eliminados. 

Qualquer semelhança  31 anos depois - com o atual cenário econômico do Brasil é mera coincidência? Acho que não!

O que aconteceu depois ? 

Como previsto a economia chilena despencou, algo previsível para Friedman, o criador das idéias que considerava isso necessário para fazer "ressurgir" a economia. Daí, o periodo foi chamado de "Milagre do Chile de Pinochet"

Sob administração desse regime empresas paraestatais foram leiloadas, privatizadas a preços bem abaixo do valor comercial, regulamentações econômicas foram eliminadas e as contas comércio e capital completamente liberalizadas 

No livro "A pilhagem dos grupos economicos do Estado chileno" a autora Maria Olivia Monckeberg afirma que as privatizações do regime Pinochet foram revistas pela Câmara dos Deputados, mas não houve mudanças no que foi feito pelos militares 

 Ex-funcionários do governo militar eram os novos proprietários das empresas privatizadas 

Já no livro "A História Não Contada dos Economistas e do Presidente Pinochet" o autor Arturo Fontaine Aldunate descreve o processo em que um governo militar e autoritario faz com os principios da economia.

O autor afirma que mais de 30 empresas chilenas foram privatizadas representando um prejuízo estimado em mais um bilhão de dólares 

No entanto a história do chamado "tigre do cone sul" não foi vista como uma vitória do modelo do desenvolvimento econômico 

"Os militares embarcaram em um golpe sem ter um projeto próprio, mas com uma 'vontade de poder'; um direito político disposto a transferir totalmente sua soberania e facilmente persuasivo da necessidade de uma 'grande cirurgia'; empresários disponíveis para disciplina e aceitação de uma lógica de longo prazo, desde que nunca mais sejam ameaçados pelo movimento popular..." diz o sociólogo Tomás Moulian no seu livro - recorde de vendas - "Chile atual, anatomia de um mito"

Coincidência ou não, 30 anos após, um dos Chicago Boys - Paulo Guedes - ao assumir o Master Ministério da Economia do Brasil em 1o. de janeiro de 2019, afirmou pretender fazer no Brasil as reformas que foram feitas no Chile de Pinochet, "autonomia do Banco Central, cambio flutuante, equilíbrio fiscal (entre despesas e receitas públicas, embora recém assumiu desprezo ao teto de gasto) e previdência social no regime de capitalização". 

Confira no link "Plano económico de Paulo Guedes, guru de Bolsonaro ..."
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/02/politica/1538508720_526769.html

Trinta anos atrás,  tais medidas não deram certo no Chile, no Brasil de 2021 vai dar? Todos, sem exceção, vão pagar para ver 


O que aconteceu com altivo e soberbo General Pinochet ?

Foi preso em outubro 1998, em Londres, com mandado de prisão internacional, acusado de várias violações de direitos humanos. Faleceu, doente, na prisão domiciliar em dezembro de 2006, enquanto ainda respondia 300 acusações criminais entre elas:  crimes contra a humanidade, genocidio, corrupção, peculato e tráfico de armas.

Durante 17 anos do seu mandato, foi acusado de acumular 28 milhões de dólares de forma corrupta e de  perseguir esquerdistas, socialistas e críticos politicos 

Selume Zaror em foto recente 

O que aconteceu com os mais de 1
00 chilenos, os Chicago Boys que ocuparam cargos no Regime Pinochet?

Os que ainda não faleceram, na velhice, passam muito bem, em especial o recrutador de Paulo Guedes, Jorge Constantino Demétrio Selume Zaror, depois de revitalizar o intervencionado Banco Osorno,  vendeu em 1996 para o Banco Santader do Chile por 495 milhões de dólares, uma das maiores transações financeiras do Chile, até então. Atualmente é empresário de destaque como criador de cavalos árabes 


Enquanto isso, brasileiros assistem, estarrecidos, o neófito vôo do Condor!








Credito das Imagens Google

Sites pesquisados e compilações de textos: 

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/02/politica/1538508720_526769.html

https://web.archive.org/web/20080224134700/

https://insightsur.com/2012/04/23/on-the-miracle-of-chile-and-pinochet/

Concha Cruz, Alejandro; Maltés Cortés, Julio (2000). Historia de Chile. Editorial Bibliográfica Internacional. p. 663. ISBN 956-7240-09-4

Angell, Alan (1991). The Cambridge History of Latin America, Vol. VI, 1930 até o presente. Ed. Leslie Bethell . Cambridge; Nova York: Cambridge University Press. p. 318. ISBN 9



Comentários

  1. Como bem frisou Luis Fernando Veríssimo em sua página do twitter desta semana (22/10/21), é a política econômica exercida no “beleléu”, lugar de localização indefinida. Fica além das Cucuias, na fronteira com Cafundó do Judas e Raio Que os Parta do Norte. Beleléu tem características estranhas. Nenhum de seus matos tem cachorro, as vacas estão todas no brejo — e todos os seus economistas são brasileiros.

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    1. Ri alto das definições. Mas o cenário é por aí. Requer bom humor, já que as dificuldades financeiras impostas por um homem só
      Se alastram como "beleléu"😀😁😂

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