Consumir carnes ou ser vegetariano, é um dilema ético?


De todos os princípios dos adeptos do cristianismo o principal é "ama ao teu próximo, como a ti mesmo" 

Isso não é só um contraste, como também uma contradição quando o próximo empunha uma arma em sua direção, tentando matar você. Se ele é bem sucedido, você será incapaz de amá-lo? 

Já se você o ataca preventivamente, ou consegue contê-lo - sem importar consequências - isso também não é entendido como algo amoroso 
Esse é um dilema ético para os verdadeiros cristãos 

Em termos simples essa situação contradiz a intuição comum: a da sobrevivência, esse é o principal dilema entre os consumidores de carne e os vegetarianos. Vou explicar isso:

O dilema remonta aos nossos antepassados mais antigos. Afirmam os antropólogos que os primeiros humanos alimentavam-se de frutas, folhas e sementes vivendo em perfeita harmonia com a natureza. O consumo de carne surgiu bastante tarde na evolução humana 

Colin Spencer um desses antropólogos afirma que "comprimindo a nossa evolução na vida de uma pessoa de 70 anos, o consumo de carnes começa apenas nos últimos nove dias"

A hipótese do ser humano caçador foi descartada no livro Man the Hunted, de Donna Hart e Robert W. Sussman, esses dois antropólogos argumentavam que os nossos antepassados foram presas de outros animais, e não os predadores. Foi exatamente a nossa necessidade de escapar que levou a habilidade intelectual e a linguagem

"Conviver com predador grande e forte pode ter estimulado o cérebro a tornar-se maior e mais complexo, uma vez que a única forma de viver é literalmente ser mais esperto que o predador". Até hoje é assim

Ou seja o consumo de carne não fez os cérebros humanos crescerem, já que isso ocorreu muito antes da carne vermelha ser parte regular da nossa dieta

Outro antropólogo afirma que a carne como proteína não é superior a de ovos e nozes, e não poderia alterar a evolução do cérebro. Se fosse esse o alimento milagroso, teria continuado a aumentar o tamanho dos cérebro nos anos seguintes com consumo muito maior de carne

Por volta de 3.200 AC o vegetarianisno foi adotada no Egito por grupos religiosos que acreditavam que a abstinência de carne criava um poder karmico, já que os egípcios foram os primeiros a acreditar na transmigração das almas através de corpos


O filósofo Pitágoras ensinou que todos os seres vivos são parentes e todos deveriam ser considerados como uma grande família. Seus argumentos a favor de uma dieta sem carnes baseava em 3 eixos: veneração religiosa; sa
úde física e responsabilidade ecológica, razões citadas, até hoje, pelos não consumidores de carnes


Aristóteles dizia que o homem é superior à mulher, aos escravos e aos animais e estes ultimos, por serem irracionais é melhor para eles estarem sob o domínio do homem. D
urante séculos, foram as idéias aristotélicas que predominaram no mundo ocidental, não as pitagóricas

Os primeiros cristãos praticavam o vegetarianismo e Jesus era vegetariano, segundo alguns autores, por ser Essenio 

Essenios era uma antiga seita judaica, que surgiu 200 anos AC em reação ao excessivo abate de animais, muitas das vezes feitos num só dia. Lembre-se, naquela época, sem tecnologia, o abate era feito na degola e manualmente. Avalie os odores fétidos que tais abates exalavam nos arredores

Essenios não matavam criaturas vivas nem para sacrifícios, consumiam apenas vegetais, hoje conhecidos como veganos. Alguns chegavam a viver até mais de 100 anos um grande feito para época. Foram dizimados pelos romanos


O principal simbolo dos cristãos primitivos era o peixe, inclusive servia de senha para cristãos esconderam sua identidade evitando as perseguições e prisões. As letras da palavra ICTUS (Jesus) significava peixe em grego antigo. Era um acróstico de Iesous Christos Theou Uios Soter   quer dizer "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador" 

Nessa perspectiva o milagre da multiplicação dos peixes simbolizou a propagação do cristianismo. Há quem defenda que o milagre ocorreu com pão e fruta, e o peixe só apareceu nos manuscritos do Novo Testamento do Séc.IV. 

Obras antigas admitem que muitos apóstolos e santos cristãos alimentavam-se apenas pão, azeitonas, frutas e algumas ervas

Mas essas práticas não eram consideradas vegetarianismo, porque o NÃO consumo de carnes era visto como um jejum modificado para purificar o corpo 

Não eram movidos por motivo de respeito e compaixão aos animais, nem eram baseadas no desejo de adquirir mais saúde física 

Antes, era uma dieta alimentar pobre, limitada, desequilibrada com o fim de dominar o corpo e castigar a vontade (resistir às tentações), o que contrasta com o vegetarianismos que não tem o intuito de "mortificação corporal", e sim obter vigor físico 

Na Segunda Guerra Mundial a escassez de alimentos encorajou as pessoas a cultivarem seus próprios vegetais e frutas. Assim, a dieta vegetariana manteve além da vida das populações a saúde também durante os anos de Guerra 

Impressiona no pós-guerra a criação intensiva de animais para o abate, em confinamento e condições artificiais. Com o uso massivo de drogas e hormonais possibilitou o consumo diário de carnes a todas as classes sociais 

A criação intensiva de animais em resposta ao aumento do consumo, substituiu as unidades de criação familiares, daí a esmagadora maioria da carne consumida mundialmente, provêm desse tipo de criação


Os alimentos passaram a ser produzidos muito mais rápido, com preços mais reduzidos. Compare a diferença de preços entre um frango caipira e um de granja! 

Isso intensificou o consumo de carnes, verificando-se ainda mais exagerado nos dias de hoje, com mais de 6 bilhões de consumidores

No fim, voltando ao princípio cristão de "amar o próximo" consumir carnes ou ser vegetariano, hoje é apenas uma questão de consumo e preço


Comer carnes ou ser vegetariano nada tem a ver com o abate massivo dos inocentes animais diante da "foice reluzente e afiada" dos frigoríficos

Afinal todo ser vivo, diante da morte, sem defesa, apela à intuição comum: a sobrevivência. E o amor ao próximo onde fica? 

Vai um pãozinho aí? 

"Que crime horrível lançar em nossos corpos as entranhas de outro ser vivo, nutrir-se da sua substância no sangue do nosso corpo. Para conservar a vida de um é mister que morra o outro? Em meio aos tantos bens que a melhor das mães dá, a Terra, ainda tenha de se recorrer a morte para o sustento?" (Metamorses, de Ovidio)

Site de pesquisa e compilação de textos 

https://www.avp.org.pt/o-vegetarianismo-ao-longo-da-historia-da-humanidade/




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Existe vida após a morte? A banalidade da vida cotidiana nos empurra a resposta: Sim? Não?

As novas regras da LDO e os vetos do governo Lula até ao atual cenário político do Brasil. Como tudo isso afeta seu bolso?

Pobres não são nobres! Será que não? A luta de classes no atual Congresso Nacional